Prefeitura de Porto Alegre promove seminário sobre Economia Solidária. "É possível descobrir a abundância, onde hoje só vemos a escassez. A Economia Solidária trabalha com um novo movimento cooperativo que promove a reformulação da economia voltada para os setores populares, onde a escassez de dinheiro pode ser compensada pelo uso das moedas sociais". A afirmação é da socióloga argentina e doutoranda em Economia, Heloísa Primavera, que coordenou o Seminário Economia Popular Solidária: o desafio da construção de redes de trocas e moedas sociais, realizado sexta-feira, 14, e sábado, 15, pela Secretaria Municipal de Produção, Indústria e Comércio (SMIC), Deparamento Municipal de Habitação (Demab) e as organizações não-governamentais Planta Sonhos e Amencar. O encontro foi no Auditório da Prefeitura de Porto Alegre, no Paço dos Açorianos.
Heloísa, que coordena a Rede Latino Americana de Socioeconomia Solidária (Redlases), expôs experiências da Argentina e América Latina e coordenou oficinas com os participantes, a maioria representantes das mais de 30 iniciativas de Economia Solidária desenvolvidas no Rio Grande do Sul desde 1999.O objetivo do encontro foi a troca de conhecimentos entre iniciativas brasileiras e argentinas envolvendo clubes de trocas e moedas sociais no âmbito da Economia Solidária.
Economia Solidária é uma alternativa econômica e social baseada na solidariedade e no trabalho. É dirigida às pessoas desempregadas, às que buscam construir modelos alternativos de renda e a universidades e ONG, que pesquisam caminhos para a economia sob o formato de cooperativas e microempresas solidárias. Os integrantes do processo de Economia Solidária são apoiados pelo Poder Público, por meio de políticas de geração de trabalho e renda, que baseiam suas ações na cooperação e na inclusão social.
Nestas organizações produtivas a solidariedade entre os integrantes é estimulada mediante a prática da auto-gestão, uma forma de trabalho coletivo e cooperativo, onde os trabalhadores são proprietários do empreendimento, desde a produção até a circulação de produtos e serviços.
Trocas
Heloísa Primavera explica que grupos de troca são formados e, por meio deles, as pessoas se reúnem com a intenção de trocar seus serviços ou bens utilizando instrumentos de intercâmbio como bônus, vales e moeda social. "Esta última substitui nas comunidades o dinheiro formal, permitindo a criação de um novo mercado, onde produtores e consumidores satisfazem mutuamente suas necessidades sem o uso do dinheiro", destacou.
Heloísa apresentou aos participantes do Seminário, a situação das redes de troca na Argentina, onde, desde 1996, são desenvolvidas açoes em Economia Solidária. "Entre 2000 e 2002 as redes da Argentina foram integradas por cerca de seis milhões de pessoas", salientou.
São variadas as trocas estabelecidas pelos integrantes destes grupos, ressaltou Heloísa. "Os produtos e serviços intercambiados por estas redes incluíram também a troca de conhecimentos, ou seja, um professor ministra aulas pariculares em troca de alguma mercadoria ou outro serviço, como o conserto de uma torneira, por exemplo".
A socióloga lembra que o Brasil, onde a primeira experiência em Economia Solidária data de 1998, na cidade de São Paulo é um dos pioneiros do movimento no mundo." O Brasil tem uma das maiores redes de Economia Solidária do mundo; estão cadastrados na Redlases 811 empreendimentos, mas sabemos de muitas iniciativas que ainda não estão computadas na lista dos integrantes da Redlases", avaliou.
Na tarde de ontem, 15, Heloísa expôs o "Projeto Colibri", iniciado na Argentina em junho de 2003, para exemplificar as fases de execução de ações na área da Economia Solidária. O objetivo do programa foi a geraçào de renda para comunidades pobres, em meio à crise econômica daquele país.
O projeto começou nas regiões de Mendonça e Corrientes, onde primeiramente foram viabilizados financiamentos na área de micro-créditos. Posteriormente ocorre a produção de bens por estes grupos, aparecendo neste momento a moeda social para as trocas. Juntamente com apoio do Estado e sociedade civil se dá o processo de cogestão.
Redlases
A cordenadora da Redlases afirmou que a organização conseguiu financiamento para a formação, nos próximos três anos, de 1.500 promotores de desenvolvimento local em toda a América Latina. "O desafio das organizações de Economia Solidária do RS será de formar em três anos 500 multiplicadores da idéia dos grupos de troca e uso de moeda social", enfatizou. "Tais agentes serão também monitores dos projetos criados até o momento que se forme um grupo promotor do desenvolvimento econômico sustentável nas cidades", afirmou Heloísa.
Interessados em mais informações sobre Economia Solidária na America Latina podem acessar os dados por meio da página www.redesolidaria.com.br ou www.redlases.org.ar; na Smic (Supervisão de Economia Popular), telefone 3289-1774 e na ONG Amencar, de São Leopoldo, telefone 51-588-2222.